28 de jul. de 2009

Jesus

Jesus é um homem comum. Filho de uma mulher chamada Maria e de um homem chamado José. Viviam uma vida humilde e tranquila. José era carpinteiro e nada mais fazia do que se ocupar de seu oficio e ensinar suas técnicas a seu filho. Jesus, quando tinha seus poucos sete anos de idade, viu seu pai preparar duas grandes toras de madeira e lhe perguntou: "Pai... O que é isso?" José, constrangido, lhe respondeu - Filho... Sabe quando alguém é ruim e malvado e machuca outras pessoas? Isso aqui é o que a lei usa para eles... Para eles se arrependerem.
- Pai... Porque é você que tem que fazer isso?
- Porque precisamos do dinheiro, filho.
Jesus franziu o cenho, pensativo.
- Tá. Mas isso dói?
José riu bondosamente: - Um pouquinho...
- Tá... Faz de um jeito que não doa tanto tá bom???
- Tá bom, filho...
Jesus saiu correndo, alegre, da oficina de seu pai e foi ao seu pequeno quarto, orar. Jesus orava por horas a fio. Isso lhe trazia força, alegria e vida. Ele não orava para nenhum nome conhecido, seu deus, ele chamava-o de Pai. A primeira vez que Jesus disse isso a alguém foi à Miriam, seu primeiro amor. Jesus, agora com seus 14 anos, estava apaixonado por essa garota. Miriam era uma típica menina da sociedade. Bonita, vaidosa, complexa. Contava nos dedos os meninos que a cortejavam... e adorava esse jogo. Jesus orava ao Pai, sinceramente e direto de seu coração, lhe pedia que Ele abrisse os olhos de Miriam de alguma forma e que se apaixonasse por ele. Uma idéia parecida vinha-lhe à cabeça, uma vontade irresistível, de pedir que Ele fizesse que ela se apaixonasse por ele... que Ele lhe desse ela. Ó, certamente Lhe pediu isso uma vez, mas se reprovou por isso. Era um sábio conhecedor do amor, e sabia que essas coisas não acontecem assim tão fácilmente, e mesmo se acontecesse, não é esse o modo que Jesus gostaria que acontecesse, por maior que fosse seu desejo... Mas, Miriam, entre todos os seus pretendentes, elegiu Jesus, o primeiro a lhe negar atenção, porque odiava o fato de ter os olhos de Jesus hora voltados para ela, hora voltados para dentro. Não conseguia conciliar a idéia de uma atenção dividida... Sentia-se traída.
- Miriam... Sabe que eu te amo muito não?
- Sei... e eu amo você.
- Eu e você... Somos um, Miriam.
Miriam adorava essas palavras... Sentia a verdade traspassar seu ser. Ao longo do tempo deixou a vaidade e seu jogo de conquista de lado... Sentiu esse caminho não ser o dela, e apenas era... uma criança. Passava seu tempo amando ao seu menino, e Jesus, a sua menina. Um dia, Miriam foi acometida de uma terrível doença... Seu corpo definhou e sua vontade de viver se limitava a abrir e fechar seus olhos umas poucas vezes ao dia. Ela abria os olhos, via Jesus, fechava-os, e via Jesus. Seu amor, Jesus.
Jesus não saiu do lado de sua amada em momento algum. Seu amor por ela crescia a cada momento... e sentia algo, lá dentro, brilhar... despertar. Orou ao Pai pela vida de sua amada. Orou ao Pai por descanso ao seu coração. Orou ao Pai por sua própria morte. Se ela morresse, ele também já não queria viver.
Nenhum desses pedidos foram atendidos. Miriam morreu. E alguma parte de Jesus, também.
Se refugiou no consolo de sua mãe Maria. Maria lhe trouxe conforto à sua melancolia. Disse à Jesus que ele ainda a encontraria no além, ao lado de Jeová. Jesus naquele momento sentiu um certo conforto, acolhedor, mas logo sentiu uma violenta tristeza. Seu coração dizia-lhe o contrário.
- Mãe, gosto muito de pensar nisso, mas sinto que não é verdade.
- Ora filho, está escrito assim.
- Mas eu não me sinto assim...
- Acalme-se... Tudo passa.
- Não, mãe. Isso não passa.

7 de jul. de 2009

Diabo

Criança acorda com barulho
Vai até a janela, olha
Uma floresta densa e escura
Um campo aberto entre a casa e essa floresta
Um homem branco, nu e raquitico, sai correndo de entre as arvores
em diagonal, em direção à casa, correndo, assustado
A criança se surpreende, com medo
Mais pessoas nuas, brancas como leite e magras
saem da floresta correndo e assustadas.
Uma sirene.
Relampagos estouram da floresta
Soldados nazistas aparecem andando da floresta
disparando suas metralhadoras.
As pessoas brancas estouram em vermelho.
Os soldados atiram, fumam, sorriem...
A criança...
A criança..

***

Criança sapeca
Mãe conta histórias de Satã
A criança acredita
Duas vezes o diabo pega ela
Uma na cozinha, o homem encapuzado
Uma na floresta, ao escapar do seu saco, o homem-bicho...
A criança foge, ele vem em direção a ela com os braços abertos...
Em seu calabouço ela acorda.
A mãe chama a criança, ardendo em febre.
A criança, delirando, chama o diabo.
A mãe se arrepende... O médico lhe diz pra não contar mais essas histórias.
"E como ele vai ser um menino bom?"
"Conte os bons ensinamentos."
- Desculpe, filho.

***

Criança conversando com o diabo na arvore.
- Deus me criou? Hunf! Essa história tá mal contada. Você consegue imaginar o bem criando o mal? Não né. Mas você consegue imaginar o mal criando o bem... não é? Por diversão. Eu criei o mundo. E já já ele acaba. Pra minha diversão...
- E eu? Posso ser mal?
- Você? Não! Ser mal é algo pra poucas pessoas. Você é bonzinho. Não pode ser mal. Eu não deixo.
- Ahhh... Que chato!
- Hehehehe... eu sei.
- Mas hoje na igreja falaram que na bíblia não é assim.
- A bíblia... sabe quando fala que no inicio tudo era escuridão? Bom, é isso. Sou essa escuridão.
- Ahhmmm...
- É como se eu pegasse um fósforo... (O diabo acende um fosforo) e pronto, criei o mundo. (Apaga o fósforo) Destrui o mundo.
- Posso te pedir um favor?
- Qual?
- Você pode destruir o mundo só mais tarde? Eu quero viver bastante!
- Isso depende inteiramente de você.
- Como assim?
- O mundo é seu...
- É meu???
- Sim... É seu e de todo mundo. É seu, dessa formiga, e dessa árvore. Você é o mundo.
- Mas... não dá pra entender...
- Ainda não... mas já já você vai entender. Por enquanto brinca de o bem contra o mal que também é divertido...
- É... Sabe... Eu gosto do bem...
-... Eu também...

3 de jul. de 2009

através do espelho

Tem algo aqui
que não quero enfrentar
Essa pressão
de onde vem?

De quem é?
É minha?
É tua?
É de alguém?

Ela existe?
Sinto um peso
dentro da minha cabeça
Ele se move na horizontal
Isso mesmo
Cresce
um tumor.

É a responsabilidade batendo?
E qual é ela?
Fazer dinheiro?
Me chamem de louco
mas esse não é o meu objetivo.

Essa semente que deixei crescer...
Me roubou tanto...
Porque???

Espero ter outra chance.
Espero...
Espero..
Espero.

cold room

so cold in my room
don't know why
it's cold like this

if this was a dream
what would it be
its meaning?

my muscles shrink
in agonizing pain
this absence of warmth
feels like dying.

a volcano turned cold
and nothing he had
to expel
to cause death
and life.