27 de mar. de 2010

árvore

gota mais gota
uma grande gota.
assim somos
desde o ínicio.
você parada em uma folha
eu cheguei com a chuva.
no ar, uma eternidade
pra te encontrar e logo
caímos na terra.
e na escuridão
fazemos brotar
a árvore em qual repousavas.

gota mais gota
uma grande gota.
assim somos
desde o ínicio.
eu parado em uma folha
você chegou com a chuva.
no ar, uma eternidade
pra me encontrar e logo
caímos na terra.
e na escuridão
fazemos brotar
a árvore em qual repousava.

você vai, você vem
eu vou, eu volto.
para em uma breve caída
encontrarmos um ao outro.

24 de mar. de 2010

36º C

Andando pelo corredor percebi que era uma noite morna. Com morna quero dizer que o ar estava parado, sem vento e um clima que não era frio e não era quente... era morno, e sem graça. Essas noites são preocupantes para os homens em estado de ócio. Não sabem o que fazer consigo mesmos. Mas se fazem pelo menos algo, conseguem manter o estado de ócio no ponto certo. Se a noite é fria: buscam um jeito de se aquecer. Se é quente: tiram a camiseta ou ligam o ventilador. Quando morna... eles enfrentam o próprio ócio. E eis que sou um deles.

Entro no quarto e nada tenho a fazer. O ar parado fora da janela me convida a pensamentos que o vento normalmente não deixa surgir. Troco de roupa. Olho o quarto. Sinto o espaço ao meu redor. Ele conspira algo... Conspira para que eu faça algo. O que? Nada. Vou contra meus instintos e apago a luz. Me deito na cama e olho para o teto por aproximadamente meia hora... e aí me bate: Vou rezar. Faz tempo que não rezo. Faz tempo que não penso em Deus. Faz tempo que não sinto minha fé. Me viro de barriga pra baixo e junto minhas mãos em gesto de oração. - Deus, obrigado por esse... - E alguém abre a porta do meu quarto com toda a força! Me viro assustado pra olhar quem era e vejo um velho de barba branca, vestido de branco, e todo ofegante.
- Não continue! Não posso suportar!
- O que??? Quem é você?? O que você quer?!?!
- Não se assuste! Sou Eu! Deus! - E ele avançou o passo para mim e sentou-se ao meu lado na cama.
- Mas...
- Olha... - Ele tinha um cheiro a pessoa velha e um olhar bondoso, porém nesse momento parecia um pouco desesperado. - Vim pedir-te desculpas em pessoa.
- Desculpa porque? Como assim? Quem é você?
Ele recuperou um pouco a calma e me disse o seguinte...

- Sou Deus, Jeová, Pai de Israel. Sou o Próprio a quem você estava a orar. Sou o Deus acima de todos os deuses, assim Me declararam... E vim suplicar-lhe que não ores para Mim. Não posso suportar mais uma oração sem fé. Sem crença. Você não vê? Você não sente? Estou morrendo. E orações como essas são o porque da Minha falta de força. Antes o inferno de Satanás, o medo que as pessoas lhe tem, que a hipocrisia dirigida a Mim. Vim também pedir-lhe desculpas por ter abandonado você. Sei que parte da sua falta de fé é culpa Minha. Também Sou culpado, reconheço... Mas pare, por favor.
- Mas... Eu estava a pedir um pouco de ajuda...
- Olhe, existe horas que não adianta pedir ajuda. Sabe que existem pais que deixam o filho chorar no escuro para que o filho aprenda que eles nem sempre estarão por perto? Eu também faço o mesmo. Uma hora você vai perceber que você não pode contar sempre comigo... Uma hora você vai ter que parar de chorar por conta própria e parar de ter medo por conta própria. Eu vim te dizer que quero estar vivo em você. Em suas memórias. Não te acompanhei bem? Não fui um pouco bom com você? Pois eu te dei conforto quando me pediste. Mas chegou a hora de deixar-te... Então, por favor, pare de orar para mim.
- Mas porque??? Agora que eu sei que você existe! Porque?!
- Porque em parte deixei de ser Deus pra você há muito tempo, e agora aparecendo para você eu completo essa transição. Você está por conta própria.
- Não entendo o porque. Porque isso? Porque?
- Porque eu já não sou o que você precisa. Você vai ter que encontrar uma nova imagem. Provavelmente já a viu em seus sonhos. Ou em algum momento em que estavas sozinho no escuro e eu do lado de fora, esperando brotar isso em você. Está dentro de você. E se quiseres orar... Ore para ela. Ela é a minha mãe, também.

E em um piscar de olhos ele desapareceu... Me encontrei olhando para o teto... Querendo saber o porque que tudo o que me era conhecido já não me servia...
E o desconhecido me apareceu... ao mesmo tempo apavorante e intrigante.
Pronto para me destruir e me absolver, neste quarto e último parágrafo.

17 de mar. de 2010

weeping mask

oh little actor,
don't you have time for yourself?
don't you have time at all?

yesterday in front of the stage
today in front of the camera
tomorrow in the eye of thousands

oh little actor,
don't you have time for yourself?
don't you have time for your tears?

yesterday in photos
today in moving pictures
tomorrow impossible to see

oh little actor,
don't cry for your image

take time for yourself
turn the face of your mask
don't be afraid of it.

oh little actor,
you should cry for yourself
for that crippled man
behind the weeping mask