10 de mai. de 2009

Transformação

Havia um homem, cujo nome não me lembro, que falava pelos cotovelos. Era bem apessoado, cuidadoso e por mais que as pessoas não quisessem enxergar, era preconceituoso. Este homem odiava quem cometesse a infidelidade. Falava muito sobre a infidelidade e condenava-a em público. Odiava o traidor e seu cúmplice e compadecia pelo traído. Um belo dia... ou melhor, uma bela noite... a lua estava cheia e transbordando mistério e sensualidade. Seu corpo atraía as pessoas. Atraiu uma mulher. Ela era casada, e ele um solitário. Não resistiram um ao outro e se entregaram.

- Você é o que odeia -

Max era uma pessoa normal. Sim. Normal. Não há muito o que se dizer sobre ele... Apenas que ele amava as arvores. Defendia toda a natureza. Brigava com seus pais e irmãos quando estes não mostravam o devido respeito à natureza. No trabalho os outros zombavam-lhe por ser tão "verde". Amava a natureza. Adorava passar seus dias no parque sentado, pensando, sentindo e respirando a natureza ao seu redor. As arvores lhe comunicavam algo... que ele considerava superior. Ele ficou dias a fio no parque. Esqueceu de sua família, de sua casa e de suas obrigações. Vivia naquele parque... e não tinha intenção de o abandonar. Mais tarde, Max ficou conhecido como o velho do parque.

- Você é o que ama -

Julia é uma menina tímida, carente e um pouco nervosa. Explodia em nervosismo quando sua timidez e carencia tomavam conta de seu ser. Tinha medo do escuro. Ansiava por alguém que lhe mostrasse que ela não precisava ser tímida para com ele, que suprisse sua carencia e assim lhe acalmasse os nervos.
Um dia um menino lhe veio a dizer que a amava. Ela não soube responder nada adequado ao menino. Ela também o amava, mas disse algo como: "Sai de mim!", e o menino saiu.

- Você é o que teme -

Rodrigo recém havia terminado a faculdade. Se formou em agronomia e queria ser o maior da sua área. No dia de sua formatura teve um momento de inspiração e tatuou em sua cabeça que ele seria o melhor agronomo que já existiu. Assim feito, Rodrigo é o melhor agronomo que já existiu.

- Você é o que pensa -

O primeiro homem, cujo nome ninguém se lembra, nem mesmo aquela mulher que o amou naquela noite, não sentiu culpa alguma ao estar com ela... e a amou naquele momento. Se estranhou, riu de si mesmo e se sentiu vivo. Compadeceu por ele e por ela. Se alegrou por eles dois. E pelo marido também. A mudança estava a se manifestar... E ele se entendeu como apenas um veículo disso tudo. Max segue no parque... Se sente parte da natureza e passa seus dias com um deliciamento de estar vivo inigualável. Os outros apenas o vêem como vêem a natureza: uma parte da paisagem. Algo que está lá, totalmente estranho a eles. Julia voltou à sua casa, triste e deprimida - nervosa... e culpou o menino por se declarar daquele jeito à ela. Que desgraça! Era noite e sentiu medo do escuro que estava à sua espreita. Sentiu como se ela já não tinha nada a perder, com coragem apagou a luz e se entregou à escuridão... E percebeu que não havia nada tão escuro quanto ela nessa escuridão... e foi nesse momento em que sua luz acendeu. Rodrigo conquistou a estima de todo o mundo academico da agronomia. Reconhecido em todo o mundo, era tido como um dos maiores. Ele viveu para a agronomia, escreveu livros sobre a agronomia e lecionou nos ultimos anos de sua vida. Morreu para a agronomia. Contente e satisfeito.

- Você é.

A transformação se desvela como mera ilusão.

Um comentário:

  1. Meu merda.
    Vejo Arow em cada linah desse texto. Muito bom! Quando vc diz no final "você é", pra mim VOCÊ É mesmo.
    O meu merda. O meu talentoso amigo. O meu cafézinho em Paris.

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