30 de abr. de 2010

orgulho

Pedras que carrego
são só minhas
Como vou deixar
você as carregar
Não vou
Não quero
São minhas.

Será possível isso?
Esse egoísmo com
nosso próprio sentimento.
Não vou
Não quero
É meu.

Porque você quer
um pouco disso?
Não vou
Não quero


Assim o cego
rejeita a visão.

26 de abr. de 2010

Construindo uma casa

Comecei há algum tempo
a construir uma casa.
Primeiro olhei a outras
e tentei moldar a minha
segundo elas.
Ela era de areia,
e ao primeiro vento forte
desabou.

Olhei mais e mais
e vi que só areia
não era bom.
Comprei cimento
aprendi a usá-lo
e construi a segunda casa.
Ela era cinza e sem graça
e não dava boas vindas
a ninguém.
O que me havia levado meses
derrubei em uma hora.

A terceira casa
começamos por dentro
e a construir lentamente seus espaços.

Amigos aparecem e dão uma mão
e nos divertimos com a construção.
Nos dá boas vindas.
É calorosa e aconchegante.
Amo essa casa.

As vezes tem algo para consertar
dar um toque ali
ou um tapa lá.
Mas apesar de suas falhas
sempre nos dá
seu melhor, seu calor.

Está sempre aí..
Sempre em construção...

É a casa mais bonita de todas
porém ninguém a vê.
É a nossa casa
porém ninguém a possui.
Nela vivemos
dela vivemos
Por isso, ela é impossível de derrubar.

8 de abr. de 2010

O Livro

dedicado ao meu merda.


Havia um garoto, há muito tempo atrás, chamado Furu. Ele tinha algo de especial, de observador. Era ativo nas atividades do Muva e era como qualquer rapaz de sua idade no que condiz aos deveres sociais. Excelente caçador de javalis, cortejava muitas garotas e gozava de boa saúde. Mas devido ao seu poder de observação percebia mais que os outros o passar do tempo. Isso lhe trazia medo e desespero em certas horas. Furu cresceu e aprendeu a aceitar o fato de que o tempo consume a tudo e a todos, incessantemente. Furu adorava sua mulher e seus filhos, e até isso ele aprendeu a aceitar que um dia iria deixar de existir. Que todos eles iriam crescer, envelhecer, seus corpos a definhar e eventualmente morrer. E isso era aceitável a Furu... Mas o que lhe era dificil aceitar era que o seu trabalho também pereceria. Furu era um contador de histórias. Assim como eu. Furu lutou e trabalhou arduamente por inventar técnicas para que suas histórias se mantivessem ao longo do tempo. Passou a desenhar coisas em pedras para que suas histórias continuassem... Mas isso não era o suficiente e finalmente Furu inventou a escrita. Era algo que só ele entendia e pretendia passar adiante a alguém os conhecimentos dessa escrita e manter sua obra viva. Mas como sabemos, isso não aconteceu. Foi-lhe proíbido pelo Muva o ensinamento de sua escrita. Furu se retirou para as montanhas e lá ficou até o final de sua vida... abandonando o Muva e sua família.

Passaram-se anos e anos, até que um dia, o mestre do meu mestre, Gumna Tut, foi procurar Furu para saber de seu ensinamento... sua escrita. Gumna Tut encontrou a choupana de Furu abandonada e nunca mais ninguém viu a Furu outra vez... Gumna Tut apenas encontrou diversas folhas de papiro com coisas escritas. Todas amontoadas e enroladas envoltas de uma singela corda. E na madeira onde estava guardado todos essas folhas estava escrito algo, que depois Gumna Tut decifrou e dizia: O Livro. Gumna depois de anos de estudos, reflexões e meditações decifrou todo O Livro e contou ao meu mestre: "Furu passou sua vida escrevendo um único livro. E esse livro era sua vida. Ele já não se importava com que outros o lessem, mas apenas em que ele o escrevesse."

descida

decidida a descida
desceu o decidido
ao mais escuro lugar
de sua alma.