8 de abr. de 2010

O Livro

dedicado ao meu merda.


Havia um garoto, há muito tempo atrás, chamado Furu. Ele tinha algo de especial, de observador. Era ativo nas atividades do Muva e era como qualquer rapaz de sua idade no que condiz aos deveres sociais. Excelente caçador de javalis, cortejava muitas garotas e gozava de boa saúde. Mas devido ao seu poder de observação percebia mais que os outros o passar do tempo. Isso lhe trazia medo e desespero em certas horas. Furu cresceu e aprendeu a aceitar o fato de que o tempo consume a tudo e a todos, incessantemente. Furu adorava sua mulher e seus filhos, e até isso ele aprendeu a aceitar que um dia iria deixar de existir. Que todos eles iriam crescer, envelhecer, seus corpos a definhar e eventualmente morrer. E isso era aceitável a Furu... Mas o que lhe era dificil aceitar era que o seu trabalho também pereceria. Furu era um contador de histórias. Assim como eu. Furu lutou e trabalhou arduamente por inventar técnicas para que suas histórias se mantivessem ao longo do tempo. Passou a desenhar coisas em pedras para que suas histórias continuassem... Mas isso não era o suficiente e finalmente Furu inventou a escrita. Era algo que só ele entendia e pretendia passar adiante a alguém os conhecimentos dessa escrita e manter sua obra viva. Mas como sabemos, isso não aconteceu. Foi-lhe proíbido pelo Muva o ensinamento de sua escrita. Furu se retirou para as montanhas e lá ficou até o final de sua vida... abandonando o Muva e sua família.

Passaram-se anos e anos, até que um dia, o mestre do meu mestre, Gumna Tut, foi procurar Furu para saber de seu ensinamento... sua escrita. Gumna Tut encontrou a choupana de Furu abandonada e nunca mais ninguém viu a Furu outra vez... Gumna Tut apenas encontrou diversas folhas de papiro com coisas escritas. Todas amontoadas e enroladas envoltas de uma singela corda. E na madeira onde estava guardado todos essas folhas estava escrito algo, que depois Gumna Tut decifrou e dizia: O Livro. Gumna depois de anos de estudos, reflexões e meditações decifrou todo O Livro e contou ao meu mestre: "Furu passou sua vida escrevendo um único livro. E esse livro era sua vida. Ele já não se importava com que outros o lessem, mas apenas em que ele o escrevesse."

Um comentário:

  1. Sempre encontro algo de muito interessante aqui. Sempre. Gostei do novo layout.

    Gde abraço

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