Kholstomer me visitou hoje.
Estava em um montanha, parecia um vale, parecia verde, parecia algo.
Com o vento soprando, apareceu Kholstomer andando em minha direção.
Ele parecia um velho amigo de um conto esquecido, uma personagem tão viva e ao mesmo tempo dormente, ali no fundo do oceano, onde jazem todas as coisas importantes.
- Eu te disse - me disse ele.
- Como você está lindo... Eu sei, não precisa nem me dizer nada, sua aparição já é o suficiente.
- Não, não é. E sim, sou belo, como você esqueceu isso?
- Não sei. Não teve um como... Apenas aconteceu.
- Ah... Viu só... Te peguei outra vez.
- Como assim?
- Não tem como lembrar isso. Ou você se deleita com a beleza do mundo, com tudo o que isso implica, ou se perde em seus próprios pensamentos, incluindo a memória. Você poderia dizer a si mesmo que sou belo e guardar essa idéia, mas isso não seria a beleza, por mais agradável que seja ter essa memória. Você não ama porque você lembra que ama. Ou você ama ou não ama.
- Entendi... Você tem razão.
- Vem, sobe em mim que quero te mostrar algo.
Tinha esquecido como se sobe num cavalo, e sem cela ainda, parecia impossível mas foi como subir uma árvore. Sem medo, sem vergonha e com alegria. Ri do alto de suas costas, de cima dele tudo parecia diferente. Enquanto Kholstomer me levava para esse lugar desconhecido, a natureza parecia prestar louvores a nós. A disposição do mato, das plantas e das árvores pareciam estar abrindo caminho para nós e ao mesmo tempo se curvando com alegria. O céu também - as nuvens e o vento - era tudo tão calmo e ao mesmo tempo parecia que as nuvens diminuíam a velocidade para nos ver. E o mar... O mar estava silencioso como sempre.
- Segure-se - me disse Kholstomer.
De repente ele começou a voar. Voamos os oceanos e os continentes, para logo voltarmos à montanha onde nos encontramos. Desci de suas costas e começou a falar.
- Você pode viajar o mundo todo, quantas vezes quiser, mas o único lugar que você deve ir é o seu próprio coração. E é o único lugar que eu não posso te levar.
- Não entendo muito bem tudo isso...
- Não é pra entender. Palavras não significam muito...
E aí houve um silencio ensurdecedor... Kholstomer me olhava no fundo dos meus olhos. E logo me perdi no profundo negro dos seus... Que beleza indescritível.
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