6 de dez. de 2007

Solitário Sancho

Era uma noite estrelada. Dessas que as pessoas costumam a escutar sobre, mas raramente presenciam, principalmente nos dias de hoje... E é exatamente por isso que essa noite era estrelada.

Sancho viajava sozinho junto ao seu pequeno cavalo chamado Cavalo. Realmente não estava sozinho, acompanhado do seu cavalo amigo, mas como ele não obtinha respostas, ele se considerava sozinho... Nessa noite, Sancho, viajando sob as estrelas do norte, se nominou Solitário. Ele disse ao ar e ao vento, como se concluisse um capítulo de sua vida: “A solidão não é um fardo”. Sancho se sentia sábio... Se embriagou de sabedoria... e imaginou se os três Reis sábios se sentiram, ou se sentiam, assim. Nessa noite, Sancho se deu esse direito.

As estrelas já não eram as mesmas... mas a luz, era igualmente brilhante. O mundo mudava enquanto cavalo caminhava... mas a paisagem, era igualmente bela. Não se via muito... mas o que se via, era realmente belo. E nessa sensação estranha, contemplando o mundo escondido, levemente iluminado, apenas exibindo tímidas silhuetas... Sancho sentiu falta do seu querido amigo. Seu amigo, seu único amigo... como fazia falta... e enquanto seu peito se enchia de melancolia... o vento não permitia e apagava essa tristeza lentamente. Sancho sentiu esse dedo invisivel, e, justamente, achou que era seu querido amigo. Mais uma vez, Sancho sentiu-se sábio e disse ao seu amigo: “A solidão não é ausencia”.

O sol já começava a dar sinais de vitória sobre a noite... mas as estrelas ainda estavam lá emcima, olhando para Sancho. Sancho olhou para elas de volta... e voltou a pensar em seu amigo distante. Dessa vez não havia vento nem toque invisivel, Sancho chorou por seu amigo... cavalo andou mais devagar... o mundo não parou de mudar e as coisas estavam ganhando cores e perdendo suas misteriosas silhuetas... Sancho tentou se segurar, mas, como a sabedoria que o havia tomado horas atrás, embriagou-se de emoção... encheu o peito de alegrias e tristezas... com seu nariz apontado para o céu, de olhos fechados ele chorava e ria, as lágrimas escorriam pelos dois lados do seu rosto... Seu coração parecia que ia explodir... ele sabia... e cavalo também... mas eles nunca pararam.

Sentia falta da coragem do seu amigo... A sabedoria apareceu mais uma vez... o sol já aparecia timidamente no horizonte, secando o rosto de Sancho. Não havia conclusões ou afirmações. Sancho não disse nada para o vento, ou para as estrelas que desapareciam ofuscadas pelo forte céu azul... Sentiu uma saudade estranha da sua cidade, sua civilização e de sua casa... sua família... mas sabia que já não existia. Inflado com sabedoria... Agradeceu e, sem despedir-se de cavalo, sozinho, começou a andar em direção ao sol. Ele já não era solitário.

O cansaço era extremo, mas agora já não importa a ninguém.

A guerra havia terminado...

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