1 de fev. de 2009

Yarbabov

Yarbabov foi um músico famoso em seus dias. Talentoso e virtuoso. Boa gente, amigável e cordial... mas acima de tudo, era músico. Se existe uma palavra que o podia definir e que ele estivesse de acordo, assim como seus mais íntimos amigos, era essa: músico.

As pessoas da época - e as de hoje - se perguntam porque Yarbabov parou de compor, tocar e cantar. Sim. Yarbabov um dia deixou de respirar música. Seu coração deixou de dançar ao som de sua própria música. Seus ouvidos ensurdeceram e sua voz emudeceu. A música... ah, a música!.. desvaneceu.

Yarbabov sentiu o final da música e dançou-a até o fim: se apaixonou. Amou tanto Cristovna que a música, seu Eu interior, ficou com ciúmes e o deixou...
Seu virtuosismo, dedicação e obsessão fizeram-no esquecer de si mesmo.

Foi necessário, dizem uns. Argumentam que Yarbabov ao mergulhar completamente no amor sacrificando a si mesmo, renasceria o maior genio musical. Não estavam errados, porém Yarbabov nunca renasceu. Yarbabov se perdeu. E seu último ato, perdido nesse labirinto, foi deixar um fio de Ariadne para o próximo que ousar: "Não mergulhes sozinho no vazio, traga consigo a si mesmo." O vazio, diz Yarbabov, era inicialmente o Amor que ele mergulhou. "Não há mergulho no Amor, você já está submerso Nele... Aproveite e cante e dance... Ame."

Yarbabov deixou essas últimas palavras para o próximo. Nós todos. Você. Eu. A música nunca o abandonou. Mas uma canção certamente chegou ao seu fim, assim como o desvanecer de uma nota para dar vida à próxima... formando a música mais linda de todas.

Um comentário:

  1. Cristovna é uma coisa interessante. Porque o papel dela no conto é o de roubar a alma do protagonista, substituíndo o vazio deixado com o seu amor - é uma súcubo, um demônio.

    Em contrapartida, seu nome tem carater jesuíta, cristão.

    Olha a amarração: o personagem esquece seu próprio eu e é demonizado pela luz divina - ou, bem antes, pela treva religiosa. Assim, a negação do ego passa a ser condição sine-qua-non para a santidade atingida por Yarbabov.

    É claro que existem outras superfícies conotativas nessa história (como as que a gente conversou pessoalmente), mas gosto dessa aí. É uma leitura mais livre, solta da realidade do autor.

    É provavelmente como eu entenderia se eu lesse o conto num livro de um autor qualquer.

    Lindo conto, negó.

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