1 de jan. de 2011

En el fin del mundo

"En el fin del mundo;
vivo y sobrevivo.
Acá aprendo;
a estar solo;
a no desesperarme;
a no temer a nadie;
y a no querer nada. 
El fin del mundo;
es el fin del ayer;
y del mañana.
El fin del mundo;
es mí vida.
Hoy.
Eternamente hoy."

Eu era apenas uma criança quando agarrei a garrafa que continha esse estranho poema em espanhol. Estava na praia e imaginei quem poderia ter escrito isso. Levei a garrafa para meus pais para ver se podiam traduzir para mim. Entendi o que eles disseram mas não compreendi o poema. Pensei ser do futuro, quando finalmente conseguimos destruir o mundo e esse era o seu mágico pedido de ajuda. Meus pais pareciam ter gostado mas não deram muita bola. Eu guardei o poema na garrafa e a deixei em cima da minha estante.

Namorei uma menina, duas, tres, quatro...
Todas eu achei que eu amei.
Amei... até a primeira, segunda, terceira, quarta briga.
No fundo não tinha amor.
Não sabia o que era amor.
Até hoje, não sei o que é amor.
Não importa saber.

Logo entrei em contato com diversas religiões. O cristianismo me pareceu atraente no começo. Parecia tão fácil ter uma crença e depositar toda minha segurança nela... Eu iria a igreja e tudo ficaria bem. Rezaria pelos meus entes queridos, falaria que perdôo quem "peca" contra mim e no fundo desejaria que eles queimassem no inferno (tendo em conta que eu acreditaria na existencia de um). Enfim, acho que as coisas seriam imperturbáveis, já que um senhor barbudo me esperaria na hora da minha morte em um trono de ouro em alguma nuvem por aí... E aí? Passaria a eternidade olhando pra ele? Sério? Não é que eu não quisesse acreditar... Eu simplesmente não queria esse futuro pra mim. Conheci o budismo e o nirvana pareceu lindo. Comecei a meditar e coisas aconteceram. Minha mente parecia ter encontrado um certo silêncio... Mas algo no fundo me incomodava. Sempre que me encontrava com raiva ou algo parecido, ia meditar. De repente me sentia reprimido. Parecia uma droga que me acalmava... E eu não queria isso. Eu queria me entender. Não queria depender de algo. Eu não queria alcançar o nirvana depois de mil re-encarnações. Se desejo alcançar o nirvana é porque ainda sou comandado pelo meu ego. Querer se despegar do ego é também uma ação do ego... Não sei o que fazer e busquei outras e outras religiões... E todas falavam de um fim dos tempos. Sempre no futuro. Sem futuro. Tudo o que me era dito entrava em conflito com o poema. Acho que erraram ao por fim dos tempos no plural. Como no poema, venho a pensar que o fim é o fim do tempo. Quando as pessoas deixarem de pensar no futuro e basearem seus pensamentos no passado, vai ser o fim. Quando elas começarem a viver no hoje. Vejo que ainda não chegou o fim, já que penso no futuro também.
Esse "vai ser" é uma merda.

Li livros. Fiz política.
Tenho uma família.
Os livros que encheram minha cabeça.
A política que fez a mim.
A família que tem a mim.

Tudo isso, eu não quero mais pra mim.
Eu não sou o que leio.
Não sou o que penso.
Não sou o que escrevo.
Não sou nada.

Onde está o fim do mundo?
Quando vai vir?
Preciso tanto que tudo acabe...
Agora.

Como pensar em um tempo futuro
em qual vou ser eterno em outra dimensão
se não suporto a mim mesmo nesta?


***



"En el fin del mundo;
vivo y sobrevivo.
Acá aprendo;
a estar solo;
a no desesperarme;
a no temer a nadie;
y a no querer nada. 
El fin del mundo;
es el fin del ayer;
y del mañana.
El fin del mundo;
es mí vida.
Hoy.
Eternamente hoy."


Re-escrevi esse poema porque perdi o original. Estava num veleiro com meu filho. Li o poema pra ele e ele pareceu não dar bola. Não o julgo. O amo. Coloquei o poema numa garrafa e joguei ao mar. 

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