1 de ago. de 2007

A criação do universo

Alex é um menino calmo. Está na flor da idade. Prestes a passar pela puberdade, ele se agarra a sua infância e a sua criança como se dependesse disso para sobreviver. Poderíamos dizer que se crescer é pular em uma piscina de um trampolim, sua infantilidade é a sua bóia de segurança.Nesses últimos dias Alex tem pensado muito sobre a sua vida, melhor, têm sentido muito, porque crianças na sua idade não pensam muito, isso é coisa de adulto. É o seu passatempo preferido: na hora de dormir, no meio do escuro, quando todos da sua casa já estão dormindo, deitar de barriga para cima, olhando para o teto, contemplando o nada e o tudo. Agora que está crescendo, tem medo de não conseguir mais passar minutos da sua noite fazendo isso... Afinal, quando crescemos, simplesmente perdemos contato com as coisas.

Murmúrios e palavras ecoavam no nada. Vozes grossas e poderosas. Alex estava atrás de um pilar que não era um pilar. Ele olhou em volta. Reconhecia os pilares do seu livro de escola, pareciam gregos, igual aos do Parthenon, mas não, eram disformes, eles não tinham forma, não, eles mudavam de forma. Alex andou em frente, a noite e o dia lutavam no ambiente, o nada tinha forma e o tudo era disforme. As paredes não existiam, a sensação era a de andar no meio de uma explosão sem calor e infinita, Mágica.

Alex parou no centro da explosão. As coisas pararam. A explosão sumiu e as coisas tomaram formas, menos as paredes. Um caldeirão e cinco bruxos se tornaram reconhecíveis. Alex aproximou-se, calmo e curioso. Os bruxos continuavam a entoar cantos e magias. Eles jogavam ingredientes no caldeirão, dizendo coisas como: Tragédia, Amor, Felicidade, Infelicidade, Ódio, Desespero, Esperança, Sonhos, Angústia, Juventude, Velhice, e coisas do tipo. Eles pararam ao perceberem a presença do menino. Olharam para ele. Perguntaram de onde e quando o menino era. Ficaram estupefatos.

“O que estão fazendo?” perguntou o menino. Os bruxos responderam juntos que estavam a criar o universo e o mundo que Alex conhece. Alex não se preocupou em como ele chegou ali, não era importante. Não obstante, queria saber o porquê que jogaram tantos ingredientes ruins no caldeirão. O bruxo do meio deu um passo pra frente e disse: “Para o seu crescimento”. Alex não ficou contente com a resposta e perguntou o porquê. Cada bruxo deu uma resposta diferente, um completando o outro. Nenhuma das respostas satisfez Alex e seguia sem entender o porquê do sofrimento como chave para o crescimento. Nenhum dos bruxos conseguiu dar uma resposta. Eles também, agora, estavam a duvidar de si mesmos e do Universo a ser criado. O bruxo do meio, o mais sábio de todos, colocou um punhado de terra na mão de Alex e disse que o que ele falasse que era, seria. Alex não pensou duas vezes, aproximou-se do caldeirão e jogou a terra, e pensou fortemente na palavra sem dizer em voz alta.


A luz do sol que passava pela fina fresta da persiana atingia os olhos de Alex. Acordou incomodado, mas, Escolhe não sofrer com isso.

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